Formas de Linguagem

(Last Updated On: junho 19, 2020)

“A ilusória exclusividade da língua como forma de linguagem e meio de comunicação privilegiados, é muito intensamente devida a um condicionamento histórico que nos levou à crença de que as únicas formas de conhecimento, de saber e de interpretação do mundo são aquelas veiculadas pela língua, na sua manifestação como linguagem verbal, oral ou escrita. O saber analítico que essa linguagem permite conduziu à legitimação consensual e institucional, de que esse é o saber de primeira ordem em detrimento, e relegando para uma segunda ordem todos os outros saberes, mais sensíveis, que as outras linguagens, as não verbais, possibilitam”. (1)

Sabemos que, no que se refere à ação de comunicar-se com o mundo, desde tempos imemoriais o homem manifesta seus sentimentos por diversas formas de expressão; poderíamos lembrar das impressões registradas nas paredes das cavernas, as danças rituais dos povos primitivos, e tantas outras linguagens que acultura deu o nome de arte. Assim, podemos entender que os fatos culturais, artísticos ou sociais, são funções-significantes, por serem manifestações que produzem uma linguagem e consequentemente um sentido. As linguagens estão no mundo, e nós que somos parte dele, estamos na linguagem.

É papel da semiótica investigar todas as linguagens possíveis, mas não estamos autorizados a instituir qualquer escala de valor para as possíveis formas de linguagem que possam existir. Cada uma delas é autônoma em suas funções, possuindo significação própria às suas atribuições como meio de expressão. Tendo seu valor único duas formas de linguagem, quando combinadas, podem apoiar-se uma na outra para um melhor entendimento e maior expressividade, sem que uma dispense a outra por possuírem, em termos comparativos, maior ou menor valor. Que não haja competição entre elas pois não é intenção da linguagem, como elemento primordial de expressão e comunicação.

A linguagem exclusivamente visual (sem o auxílio do texto articulado), exige grande habilidade do criador para construir sua narrativa de forma a codificar a mensagem sem o auxílio da palavra. Os recursos plásticos, gráficos, virtuais e também os gestuais estão aí, podendo auxiliar no reforço da comunicação. Sabemos também que a preferência de uma linguagem à outra ou do recurso técnico que a constitui pode direcionar a mensagem para um determinado público.

A ausência da linguagem articulada, na comunicação, pode possibilitar ao observador vivenciar experiências muito mais criativas no exercício do olhar mais atento e na percepção visual do observador. Essa lacuna pode dar ao observador interessado, a possibilidade de criar o seu próprio texto verbal, desenvolvendo (em situações onde o sentido é apenas sugerido), uma amplitude de detalhes que poderá levar o observador a uma reconstrução desse sentido no decorrer da leitura.

A imagem formada por uma sintaxe visual, pode variar pela escolha da linguagem, que deverá ser uma contribuição para a contextualização do conteúdo, podendo funcionar como elemento facilitador, mas sem ter, na elaboração do texto, a pretensão de passar um sentido acabado e pronto para ser passivamente aceito pelo observador, deixando para este apenas a fatia de assistente. Dessa forma a comunicação parece não somente subestimar a capacidade do observador de concluir a mensagem que lhe está sendo emitida, como é suscetível à manipulação da informação por parte do articulador.

A forma quando equilibrada ao conteúdo poderá muito contribuir para despertar o universo imaginante de quem a recebe, oferecendo um espaço mais lúdico em seu campo de possibilidades reais e de devaneios. Entendemos assim, que na linguagem visual, é tão importante a escolha da forma (linguagem) que irá determinar a imagem, quanto o conteúdo (mensagem) que se pretende comunicar, para que justamente possa ser oferecido ao observador uma oportunidade de parceria na criação da ideia, este mergulho, que através da obra, possibilita a sensação de troca e o prazer do olhar.

 

Nota:

(1) – SANTAELA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense. 1983. P. 10/11.

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