O abismo criado entre as diferentes classes sociais, atravessa séculos, e até hoje ainda se mostra como responsável pelo constrangimento de muitas pessoas ao visitar um museu de Arte, por acreditarem que “não entendem de arte”. Esse conceito de que “Arte é para poucos”, vem se arrastando desde o Renascimento, quando se acreditava que o artista era um ser possuidor de dons divinos e seus dedos, semelhantes a varinhas de condão, transformavam matéria em arte. Estudos aprofundados sobre a vida desses geniais artistas mostram que eles trabalhavam de sol a sol, sendo operários da arte, doando quase que a totalidade de suas vidas ao trabalho pesado de desenhar e pintar gigantescas paredes ou esculpir blocos monumentais de pedra, sob o domínio da igreja e depois dos mecenas que, impondo prazos absurdos, exibiam ao mundo a monumentalidade de uma arte que eles podiam encomendar. Muitos desses artistas faleciam envenenados pelas tintas que usavam e respiravam em tempo integral.
Mudanças radicais no século 19, inicialmente na Europa e depois nas Américas trouxeram a Modernidade, que surgia para sacudir a tradição mimética da Arte, adotada pelas Academias, até então. Assim como toda revolução, a Arte Moderna gerou escândalo, incomodo e pouca aceitação, por transformar a representação figurativa em uma arte que prestigiava a abstração e a pureza de formas e cores. Essa transformação foi sendo aos poucos entendida, aceita e apreciada, e quando esse entendimento já nos parecia sob controle eis que surge a Arte Contemporânea, trazida pelos artistas do nosso tempo, como um questionamento a própria Arte. Nesse momento o artista mostra que é possível ultrapassar molduras e sair das telas, não sendo mais necessário estar preso ao bronze ou ao mármore para fazer esculturas.
O universo da tecnologia trouxe grande contribuição a esse momento contemporâneo. Essa nova linguagem sedimenta o entendimento de que a arte está em toda parte ou em qualquer material, inclusive dentro de nós, pois somos seres criativos, capazes de fazer e de ser a própria arte. O que é a dança senão a arte do próprio corpo? E se a arte é uma forma de expressão, logo, ela é comunicação. E se é comunicação, não somos obrigados a gostar, entender ou aplaudir toda forma de comunicação que nos rodeia.
O processo artístico é iniciado pelo artista criador, se materializa na obra e somente é concluído pela percepção do apreciador, para que o ciclo se complete. Se você entrou num museu e não gostou de alguma das obras que observou, isso não é constrangedor, é absolutamente normal. Você não tem que gostar de todas as músicas que ouve, ou de todos os filmes que já assistiu. Uma obra pode ser estética para uns e não ser para outros. As obras figurativas são mais fáceis de serem aceitas, pois não causam estranhamento. Uma obra Contemporânea nos oferece uma experiência; uma sensação estética que pode gerar questionamentos, abrindo espaço pra todos os sentidos e percepções. É uma outra forma de ver e sentir a arte.
O Brasil abriga o maior Museu de Arte Contemporânea do Mundo, que é o Instituto Inhotim, em Brumadinho, MG, a 60 km de Belo Horizonte, com cerca de 500 obras de arte, em 20 galerias, espalhadas por 100 hectares de jardins paradisíacos. É um desafio visitar Inhotim e sair de lá sem sentir-se amigo da Arte Contemporânea. Vale a pena ver pra crer e aproveitar essa oportunidade que mora aqui no nosso país.